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Cuidados na Hora do Nascimento

Atualizado em 15/03/2023 às 10:44

No Brasil, nascem cerca de 3 milhões de crianças ao ano, das quais 98% em hospitais e a maioria dos recém-nascidos nascem com boa vitalidade.

Sabe-se que a maioria delas nasce com boa vitalidade; entretanto, manobras de reanimação podem ser necessárias de maneira inesperada. São essenciais o conhecimento e a habilidade em reanimação neonatal para todos os profissionais que atendem Recém-Nascido (RN) em sala de parto, mesmo quando se esperam crianças hígidas sem hipóxia ou asfixia ao nascer.

O risco de haver necessidade de procedimentos de reanimação é maior quanto menor a idade gestacional e/ou o peso ao nascer.

Necessidade de reanimação ao nascimento:
•฀ Ventilação com pressão positiva: 1 em cada 10 RNs.
•฀ Intubação e/ou massagem cardíaca: 1 em cada 100 RNs.
•฀ Intubação, massagem e/ou medicações: 1 em cada 1.000 RNs, desde que a ventilação seja aplicada adequadamente.
Em Recém-Nascido (RN) prematuros:
•฀ Nascidos com menos de 1.500g: 2 em cada 3 RNs.
•฀ Idade gestacional de 34 a 36 semanas: 2 em cada 10 RNs.

O parto cesáreo, realizado entre 37 e 39 semanas de gestação, mesmo não havendo fatores de risco antenatais para asfixia, também eleva o risco de necessidade de ventilação do Recém-Nascido RN.

Assim, estima-se que no Brasil, a cada ano, 300 mil crianças requeiram ajuda para iniciar e manter a respiração ao nascer e cerca de 25 mil RNs prematuros de muito baixo peso precisem de assistência ventilatória na sala de parto.

As práticas atuais de reanimação em sala de parto baseiam-se nas diretrizes publicadas pelo International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR), que são elaborados por especialistas de vários países, e pela Associação Americana de Cardiologia e Academia Americana de Pediatria, em 2010, e adotadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria em 2011.

A cada cinco anos, após processo de revisão baseada nas melhores evidências cientificas disponíveis, são elaborados consensos sobre os assuntos controversos e recomendações referentes a diversos aspectos da reanimação neonatal.

As diretrizes são apenas orientações gerais para os cuidados ao RN na
sala de parto, existindo ainda muitas controvérsias relacionadas aos
procedimentos e aos aspectos éticos da reanimação neonatal.

Preparo para a assistência na hora do nascimento

O preparo para atender o RN na sala de parto inclui necessariamente:
• Realização de anamnese materna.
• Disponibilidade do material para atendimento.
• Presença de equipe treinada em reanimação neonatal.

Anamnese materna

As condições perinatais descritas a seguir estão associadas ao maior risco de necessidade de reanimação.

Fatores antenatais

  • Idade <16 anos ou >35 anos
  • Ausência de cuidado pré-natal
  • Diabetes
  • Rotura prematura das membranas
  • Hipertensão específica da gestação
  • Pós-maturidade
  • Hipertensão crônica
  • Gestação múltipla
  • Anemia fetal ou aloimunização
  • Discrepância entre idade gestacional e peso ao nascer
  • Óbito fetal ou neonatal anterior
  • Diminuição da atividade fetal
  • Sangramento no 2º ou 3º trimestre
  • Uso de drogas ilícitas
  • Infecção materna
  • Malformação ou anomalia fetal
  • Doença materna cardíaca, renal, tireoidiana ou neurológica
  • Uso de medicações (por exemplo, magnésio e bloqueadores adrenérgicos)
  • Polidrâmnio ou oligoâmnio
  • Hidropsia fetal

Fatores relacionados ao parto

  • Cesariana de emergência
  • Bradicardia fetal
  • Uso de fórceps ou extração a vácuo
  • Padrão anormal de frequência cardíaca fetal
  • Apresentação não cefálica
  • Anestesia geral
  • Trabalho de parto prematuro
  • Tetania uterina
  • Parto taquitócico
  • Líquido amniótico meconial
  • Corioamnionite
  • Prolapso de cordão
  • Rotura prolongada de membranas (>18 horas antes do parto)
  • Uso materno de opioides nas 4 horas que antecedem o parto
  • Trabalho de parto prolongado (>24 horas)
  • Segundo estágio do trabalho de parto prolongado (>2 horas)
  • Placenta prévia
  • Descolamento prematuro da placenta
  • Macrossomia fetal
  • Sangramento intraparto abundante

Material para atendimento para o nascimento

Todo material necessário para reanimação deve ser preparado, testado e estar disponível, em local de fácil acesso, antes do nascimento. Esse material é destinado à manutenção da temperatura, aspiração de vias aéreas, ventilação e administração de medicações.

Relação dos materiais para a assistência ao RN na sala de parto.

Sala de parto e/ou de reanimação com temperatura ambiente de 26°C e os seguintes equipamentos:

  • Mesa de reanimação com acesso por três lados
  • Fonte de calor radiante
  • Fontes de oxigênio umidificado e de ar comprimido, com fluxômetros
  • Aspirador a vácuo com manômetro
  • Relógio de parede com ponteiro de segundos
  • Termômetro digital para mensuração da temperatura ambiente

Material para aspiração do Recém-Nascido

  • Sondas: traqueais nos 6, 8 e 10
  • Sondas gástricas curtas nos 6 e 8
  • Dispositivo para aspiração de mecônio
  • Seringa de 20 mL

Material para ventilação do Recém-Nascido

  • Reanimador manual neonatal (balão autoinflável com volume máximo de 750 mL, reservatório de O2 e válvula de escape com limite de 30 – 40 cm H2 O e/ou manômetro)
  • Ventilador mecânico manual neonatal em T
  • Máscaras redondas com coxim para prematuros tamanho 00 e 0 e de termo 1
  • Blender para mistura oxigênio/ar
  • Oxímetro de pulso com sensor neonatal e bandagem elástica escura

Material para intubação traqueal do Recém-Nascido

  • Laringoscópio infantil com lâmina reta nos 00, 0 e 1
  • Cânulas traqueais sem balonete, de diâmetro uniforme 2,5/ 3,0/ 3,5 e 4,0 mm
  • Material para fixação da cânula: tesoura, fita adesiva e algodão com SF 0,9%
  • Pilhas e lâmpadas sobressalentes
  • Detector colorimétrico de CO2 expirado

Medicações

  • Adrenalina diluída em SF 0,9% a 1/10.000 em uma seringa de 5,0 mL para administração única endotraqueal
  • Adrenalina diluída em SF 0,9% a 1/10.000 em uma seringa de 1,0 mL para administração endovenosa
  • Expansor de volume (SF 0,9% ou Ringer-lactato) em duas seringas de 20 mL
  • Álcool etílico 70% ou clorexidina alcoólica 0,5%
  • Nitrato de prata 1% e ampola de água destilada
  • Vitamina K1

Material para cateterismo umbilical

  • Campo fenestrado esterilizado, cadarço de algodão e gaze
  • Pinça tipo kelly reta de 14 cm e cabo de bisturi com lâmina n° 21
  • Porta agulha de 11cm e fio agulhado mononylon 4.0
  • Sonda traqueal sem válvula n° 6 ou 8 ou cateter umbilical 5F ou 8F

Outros materiais

  • Luvas e óculos de proteção individual
  • Compressas e gazes esterilizadas
  • Estetoscópio neonatal
  • Saco de polietileno de 30×50 cm e touca para proteção térmica do RN prematuro
  • Tesoura de ponta romba e clampeador de cordão umbilical
  • Seringas de 20 mL, 10 mL, 5 mL e 1 mL e agulhas
  • Balança digital e antropômetro

Temperatura na sala de parto

A temperatura ambiente na sala de parto deve ser, no mínimo, de 26º C para que se mantenha com maior facilidade a temperatura corpórea normal do RN.

Equipe treinada em reanimação neonatal

Considerando-se a frequência elevada da necessidade de realização de algum procedimento de reanimação no RN e a rapidez com que tais manobras devem ser iniciadas, é fundamental que pelo menos um profissional capaz de iniciar de forma adequada a reanimação neonatal esteja presente durante todo o parto.

Quando se antecipa o nascimento de um concepto de alto risco, podem ser necessários dois a três profissionais treinados e capacitados para reanimar o RN de maneira rápida e efetiva.

Os auxiliares atuarão junto ao médico, e este deve dedicar-se exclusivamente ao Recém-Nascido (RN). No caso do nascimento de gemelares, deve-se dispor de material e equipe próprios para cada criança.

Para a recepção do Recém-Nascido (RN), devem-se utilizar as precauções-padrão, que compreendem lavagem/higienização correta das mãos e uso de luvas, avental impermeável, máscara e proteção facial para evitar contaminação do profissional com material biológico do RN.

Referência:

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Atenção à saúde do recém-nascido : guia para os profissionais de saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – 2. ed. atual. – Brasília : Ministério da Saúde, 2014

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