Última atualização: 08/04/2023
As alterações fisiológicas da gravidez produzem manifestações sobre o organismo da mulher que muitas vezes são percebidas como “doenças”. Cabe ao profissional de saúde a correta interpretação e a devida orientação à mulher sem a banalização de suas queixas.
As orientações a seguir são válidas para os casos em que os sintomas são manifestações ocasionais e transitórias, não refletindo, geralmente, doenças clínicas mais complexas.
A maioria dos sintomas e sinais diminui e/ou desaparece com orientações alimentares, posturais e, na maioria das vezes, sem o uso de medicamentos, que devem ser evitados ao máximo.
1. Náuseas, vômitos e tonturas:
• Explicar que esses são sintomas comuns no início da gestação;
• Orientar a mulher para: alimentação fracionada (seis refeições leves ao dia); evitar frituras, gorduras e alimentos com cheiros fortes ou desagradáveis; evitar líquidos durante as refeições, dando preferência à ingestão nos intervalos; ingerir alimentos sólidos antes de levantar-se pela manhã;
• Agendar consulta médica para avaliar a necessidade de usar medicamentos ou referir ao pré-natal de alto risco, em caso de vômitos frequentes;
• Nos casos em que as medidas não forem efetivas, ler o artigo sobre hiperemese.
2. Pirose (azia)
Orientar a gestante para:
• Alimentação fracionada, evitando-se frituras;
• Evitar café, chá-preto, mates, doces, alimentos gordurosos, picantes e irritantes da mucosa gástrica, álcool e fumo.
Obs.: Em alguns casos, a critério médico, a gestante pode usar medicamentos antiácidos.
3. Sialorreia (salivação excessiva):
• Explicar que esse é um sintoma comum no início da gestação;
• Orientar alimentação semelhante à indicada para náuseas e vômitos;
• Orientar a gestante para deglutir a saliva e tomar líquidos em abundância (especialmente em épocas de calor).
4. Fraquezas e desmaios:
• Orientar a gestante para que não faça mudanças bruscas de posição e evite a inatividade;
• Indicar alimentação fracionada, evitando jejum prolongado e grandes intervalos entre as refeições;
• Explicar à gestante que sentar com a cabeça abaixada ou deitar em decúbito lateral, respirando profunda e pausadamente, melhora a sensação de fraqueza e desmaio.
5. Dor abdominal, cólicas, flatulência e obstipação intestinal:
• Certificar-se de que não sejam contrações uterinas;
• Se a gestante apresentar flacidez da parede abdominal, sugerir exercícios apropriados;
• Se houver flatulências (gases) e/ou obstipação intestinal:
– orientar alimentação rica em fibras: consumo de frutas laxativas e com bagaço, verduras de preferência cruas e cereais integrais;
– recomendar que aumente a ingestão de água e evite alimentos de alta fermentação;
– recomendar caminhadas, movimentação e regularização do hábito intestinal;
– solicitar exame parasitológico de fezes, se necessário.
6. Hemorroidas
Recomendar à gestante:
• Alimentação rica em fibras, a fim de evitar a obstipação intestinal. Se necessário, prescrever supositórios de glicerina;
• Não usar papel higiênico colorido ou áspero (molhá-lo) e fazer higiene
perianal com água e sabão neutro, após evacuação;
• Fazer banhos de vapor ou compressas mornas;
• Agendar consulta médica, caso haja dor ou sangramento anal persistente.
7. Corrimento vaginal
• Explicar que aumento de fluxo vaginal é comum na gestação;
• Não prescrever cremes vaginais, desde que não haja diagnóstico de infecção vaginal. A presença de fluxo vaginal pode estar relacionada a complicações consideráveis, como rotura prematura de membranas, parto prematuro ou endometrite pós-parto, entre outras;
• O diagnóstico pode ser clínico e os achados mais comuns são: – prurido vulvar e presença de conteúdo vaginal com placas esbranquiçadas e aderidas à parede vaginal – candidíase. Tratar, preferencialmente, com antifúngico tópico por sete dias (derivados imidazólicos: miconazol, terconazol, clotrimazol) em qualquer idade gestacional. Não usar tratamento sistêmico;
– secreção vaginal abundante, cinza-esverdeada, com odor fétido – vaginose bacteriana e/ou tricomoníase. Tratar com metronidazol tópico (uma aplicação vaginal por sete noites) ou sistêmico (metronidazol 250mg, VO, de 8/8 horas por sete dias ou secnidazol 2g, VO, em dose
única) após o primeiro trimestre.
• Se for possível, deve-se solicitar análise microscópica da secreção vaginal com exames: a fresco, com KOH10%, ou pelo método de Gram. Os seguintes achados sugerem os respectivos diagnósticos:
– clue-cells (células-chave) ou flora vaginal escassa ou ausente: vaginose bacteriana;
– microorganismos flagelados móveis: tricomoníase;
– hifas ou esporos de leveduras: candidíase.
• Em outros casos, ver condutas no Manual de Tratamento e Controle de Doenças Sexualmente Transmissíveis/DST-Aids/MS.
8. Queixas urinárias:
• Explicar que, geralmente, o aumento da freqüência de micções é comum no início e no fim da gestação (aumento do útero e compressão da bexiga);
• Solicitar exame de urina tipo I e orientar segundo o resultado.
9. Falta de ar e dificuldade para respirar
Esses sintomas são frequentes na gestação, em decorrência do aumento do útero ou ansiedade da gestante:
• Recomendar repouso em decúbito lateral esquerdo;
• Ouvir a gestante e conversar sobre suas angústias, se for o caso;
• Estar atento para outros sintomas associados e para achados no exame cardiopulmonar. Agendar a consulta médica, caso haja dúvida ou suspeita de problema clínico.
10. Dor nas mamas:
• Recomendar o uso constante de sutiã, com boa sustentação, após descartar qualquer alteração no exame das mamas;
• Não perder a oportunidade de orientar para o preparo das mamas para a amamentação.
11. Dor lombar (dores nas costas)
Recomendar à gestante:
• Correção de postura ao sentar-se e ao andar;
• Uso de sapatos com saltos baixos e confortáveis;
• Aplicação de calor local;
• Eventualmente, usar analgésico (se não for contra-indicado), por tempo limitado.
12. Cefaleia (dor de cabeça):
• Afastar hipertensão arterial e pré-eclâmpsia (se idade gestacional maior que 24 semanas);
• Conversar com a gestante sobre suas tensões, conflitos e temores;
• Eventualmente, prescrever analgésico (acetaminofen) por tempo limitado;
• Referir à consulta médica, se persistir o sintoma.
13. Sangramento nas gengivas:
• Recomendar o uso de escova de dente macia e orientar para a prática de massagemna gengiva;
• Agendar atendimento odontológico, sempre que possível.
14. Varizes
Recomendar à gestante:
• Não permanecer muito tempo em pé ou sentada;
• Repousar (20 minutos), várias vezes ao dia, com as pernas elevadas;
• Não usar roupas muito justas e, se possível, utilizar meia-calça elástica para gestante.
15. Câimbras
Recomendar à gestante:
• Massagear o músculo contraído e dolorido e aplicar calor local;
• Aumentar o consumo de alimentos ricos em potássio, cálcio e vitamina B1;
• Evitar excesso de exercícios.
16. Cloasma gravídico (manchas escuras no rosto):
• Explicar que é comum na gravidez e que costuma diminuir ou desaparecer, em tempo variável, após o parto;
• Recomendar a não exposição do rosto diretamente ao sol;
• Recomendar o uso de filtro solar tópico, se possível.
17. Estrias:
• Explicar que são resultados da distensão dos tecidos e que não existe método eficaz de prevenção. As estrias, que no início apresentam cor arroxeada, tendem, com o tempo, a ficar de cor semelhante à da pele;
• Ainda que controversas, podem ser utilizadas massagens locais, com substâncias oleosas, na tentativa de preveni-las.
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