O ECG em Atletas

O ECG em Atletas

Atualizado em 15/03/2023 às 09:39

O ECG (eletrocardiograma) em atletas pode ser diferente do ECG em indivíduos sedentários, devido às adaptações fisiológicas que ocorrem com o treinamento físico intenso. Essas adaptações podem incluir a hipertrofia do ventrículo esquerdo, bradicardia sinusal e alterações na repolarização ventricular.

No entanto, é importante distinguir entre as alterações fisiológicas normais e as anormalidades patológicas que podem estar associadas a doenças cardíacas em atletas. O ECG pode ajudar a identificar anormalidades cardíacas em atletas que podem colocá-los em risco de complicações cardíacas durante a atividade física.

Algumas das alterações eletrocardiográficas consideradas normais em atletas incluem:

  1. Bradicardia sinusal: uma frequência cardíaca de repouso abaixo de 60 batimentos por minuto é comum em atletas e pode ser um sinal de boa forma física.
  2. Hipertrofia ventricular esquerda (HVE): A hipertrofia do ventrículo esquerdo pode ser uma adaptação normal ao treinamento físico intenso. No entanto, é importante distinguir a HVE fisiológica da HVE patológica, que pode estar associada a doenças cardíacas.
  3. Alterações da repolarização ventricular: Em alguns atletas, pode haver uma alteração nos segmentos ST e T do ECG que não são indicativos de doença cardíaca. Essas alterações podem incluir uma elevação do segmento ST ou uma inversão da onda T.

No entanto, algumas anormalidades eletrocardiográficas em atletas podem indicar uma condição cardíaca subjacente que requer avaliação adicional, como a síndrome do QT longo ou a cardiomiopatia hipertrófica.

Por esse motivo, é importante que os resultados do ECG em atletas sejam interpretados por preferencialmente um médico especialista em cardiologia esportiva, que possa determinar se as anormalidades são benignas ou requerem avaliação adicional.

Atuação da Enfermagem em cardiologia

Os profissionais da enfermagem (enfermeiros e técnicos de enfermagem), são extremamente importantes no trabalho em cardiologia, porque eles são os primeiros que identifica que algo não vai bem com determinado paciente.

O Enfermeiro também pode realizar Enfermagem em Cardiologia, uma Especialização regulamentada pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), através da Resolução Cofen n.º 581/2018.

A seguir, descreveremos de forma mais detalhada sobre “O ECG em Atletas”, segundo a última Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), publicada em 2022.

A Importância do ECG do Atleta

As alterações eletrocardiográficas, decorrentes de adaptações fisiológicas ao treinamento (sem haver, necessariamente, a presença de alterações anatômicas/estruturais), tornam a interpretação do ECG de um atleta um desafio.

Com a inclusão do ECG de repouso na avaliação pré-participação esportiva, devemos estar a par das recomendações específicas para essa população. Atualmente, os achados eletrocardiográficos, em
atletas, podem ser divididos em três categorias:

Achados Eletrocardiográficos Normais (Grupo 1)

  • Aumento da voltagem do QRS para SVE ou SVD;
  • Distúrbio de condução pelo ramo direito;
  • Repolarização precoce / elevação do segmento ST;
  • Elevação do segmento ST seguida de inversão da onda T (V1 a V4) em atletas negros;
  • Inversão da onda T (V1 a V3) em atletas com idade menor 16 anos; • Bradicardia sinusal / arritmia sinusal;
  • Ritmo ectópico atrial ou juncional;
  • BAV de 1º grau;
  • BAV de 2º grau tipo I.

Achados Eletrocardiográficos Anormais (Grupo 2)

  • Inversão de onda T nas outras situações;
  • Depressão do segmento ST;
  • Ondas Q patológicas;
  • Bloqueio de ramo esquerdo;
  • Duração do QRS ≥ 160 ms;
  • Onda Épsilon;
  • Pré-excitação ventricular;
  • Intervalo QT proçongado;
  • Padrão de Brugada tipo 1;
  • Bradicardia sinusal acentuada (< 30bpm);
  • Intervalo Pr ≥ 400 ms;
  • BAV de 2º grau tipo II;
  • BAV de 3º grau ou total;
  • Duas ou mais extrassístoles ventriculares;
  • Taquiarritmias atriais;
  • Arritmias ventriculares.

Achados Eletrocardiográficos Limítrofes (Grupo 3)

  • Desvio do eixo QRS para a esquerda (cima);
  • Aumento do átrio esquerdo;
  • Desvio do eixo do QRS para a direita;
  • Aumento do átrio direito;
  • Bloqueio de ramo direito.

Aqueles atletas com ECG normal não necessitam de mais investigação, se forem assintomáticos e sem história familiar de doença cardíaca hereditária e/ou morte súbita. Por outro lado, os com ECG com os achados do grupo 2 devem ser investigados sobre transtornos cardiovasculares patológicos associados à morte súbita em atletas.

Todas as alterações mencionadas nesse grupo podem ser manifestações estruturais no atleta. Finalmente, atletas com ECG limítrofe serão dispensados de maiores investigações se apresentarem APENAS uma das alterações (grupo 3), além de ser assintomático e sem história familiar de doença cardíaca hereditária e/ou morte súbita.

Caso apresente duas ou mais das alterações listadas (grupo 3), deve ser também investigada a presença de transtornos cardiovasculares patológicos associados à morte súbita em atletas.

Referência: 

Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre a Análise e Emissão de Laudos Eletrocardiográficos — 2022. Brazilian Society of Cardiology Guidelines on the Analysis and Issuance of Electrocardiographic Reports — 2022 (Baixar Diretriz da SBC 2022)

Apresentação e Introdução da Diretriz SBC 2022

  1. Normatização para Análise e Emissão do Laudo Eletrocardiográfico
  2. Avaliação da Qualidade Técnica do Traçado
  3. A Análise do Ritmo Cardíaco
  4. Condução Atrioventricular
  5. Análise da Ativação Ventricular
  6. Sobrecarga das Câmaras Cardíacas
  7. Análise dos Bloqueios (Retardo, Atraso de Condução) Intraventriculares
  8. Análise do ECG nas Coronariopatias
  9. Análise da Repolarização Ventricular
  10. O ECG nas Canalopatias e Demais Alterações Genéticas
  11. Caracterização das Alterações Eletrocardiográficas em Situações Clínicas Específicas
  12. O ECG em Atletas
  13. O ECG em Crianças
  14. O ECG durante Estimulação Cardíaca Artificial
  15. Tele-eletrocardiografia
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