Análise da Repolarização Ventricular

Análise da Repolarização Ventricular

Atualizado em 15/03/2023 às 09:38

A Análise da Repolarização Ventricular é feita através do exame de eletrocardiograma (ECG) onde, é possível avaliar a atividade elétrica do coração, especificamente a repolarização ventricular.

A repolarização ventricular é o processo em que as células do músculo cardíaco relaxam após a contração, o que permite que o coração se prepare para a próxima batida. Análise da Repolarização Ventricular consegue detectar alterações na repolarização ventricular que podem ser indicativas de problemas cardíacos, como arritmias ou outras disfunções elétricas.

Durante o exame de ECG, são colocados eletrodos na pele do paciente que captam a atividade elétrica do coração. Os resultados da Repolarização Ventricular são avaliados inicialmente por um enfermeiro e depois por um médico, que pode ser ou não especialista em cardiologia, que pode utilizar essa informação para identificar condições cardíacas específicas e recomendar o tratamento adequado.

Enfermagem em cardiologia

Quando o assunto é cardiologia, os profissionais da enfermagem (enfermeiros e técnicos de enfermagem), são extremamente importantes, porque eles são os primeiros que identifica que algo não vai bem com determinado paciente.

O Enfermeiro também pode realizar Enfermagem em Cardiologia, uma Especialização regulamentada pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), através da Resolução Cofen n.º 581/2018.

A seguir, descreveremos de forma mais detalhada sobre “Análise da Repolarização Ventricular”, segundo a última Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), publicada em 2022.

Repolarização Ventricular

A análise da repolarização ventricular através do ECG é extremamente complexa, pois esta representa a
interação de vários sistemas capazes de se expressarem nos segmentos e ondas elétricas. O fenômeno da repolarização ganhou maior notoriedade ao trazer contribuições para a estratificação de risco de eventos arrítmicos graves e morte súbita.

Repolarização Ventricular Normal

Período entre o final do QRS e o final da onda T ou da onda U, quando presente. Dentro deste período, os seguintes elementos devem ser analisados:

Ponto J

É o ponto final da inscrição do QRS em sua interseção com o segmento ST. É útil para o diagnóstico dos desníveis do segmento ST.

Segmento ST

Porção do ECG que está entre o complexo QRS e a onda T, nivelado em relação à linha de base, determinada pelo segmento PR. Geralmente, nos indivíduos normais, o ST é ligeiramente ascendente em direção à onda T (quando esta é positiva) e, ligeiramente descendente, quando a T é negativa.

Onda T

A Onda T normal é assimétrica de início mais lento e final mais rápido, positiva em quase todas as derivações, habitualmente com polaridade semelhante à do QRS e de amplitude equivalente a cerca de 10% a 30% do QRS. Sempre negativa em aVR. Pode apresentar-se isoladamente negativa em V1 e/ou DIII.

Onda U

Última e menor deflexão do ECG que, quando presente, inscreve-se logo após a onda T e antes da P do ciclo seguinte, de igual polaridade à T precedente e de amplitude entre 5% e 25% da mesma, na maioria das vezes.

Geralmente visível apenas em frequências cardíacas baixas, tem sua gênese atribuída a:
a) repolarização tardia das fibras de Purkinje;
b) repolarização demorada dos músculos papilares;
c) Potenciais residuais tardios do septo;
d) acoplamento eletromecânico;
e) atividade das células M;
f) pós-potenciais de atividade gatilho (“triggered activity”).

Intervalo QT (QT) e Intervalo QT Corrigido (QTc)

a) QT – É a medida do início do QRS ao término da onda T, portanto representa a duração total da
atividade elétrica ventricular;
b) QTc – Como o QT é variável de acordo com a frequência cardíaca, habitualmente é corrigido (QTc)
pela fórmula de Bazzet, onde:

QTc = QT*/√RR

*QT medido em milissegundos e distância RR em segundos.

A fórmula de Bazzet,118 amplamente utilizada para o cálculo do QTc, apresenta, no entanto, limitações para frequências cardíacas menores que 60 bpm ou superiores a 90 bpm, devendo-se nesses casos utilizar fórmulas lineares como as de Framingham119 e Hodges.

Os valores do QT e QTc não precisam ser registrados no laudo, mas sempre devem ter sua normalidade verificada. Os valores para o QTc variam com o sexo e são aceitos como normais até o máximo de 450 ms para homens e 470 ms para mulheres. Para crianças, o limite superior do normal é de 460 ms,121 sendo em contrapartida considerado como QT curto os valores menores que 340 ms.122

A medida do intervalo QT nos bloqueios de ramo é controversa, destacando-se recentemente a correção simplificada proposta por Bogossian: QTmBR = QTm – 0,5QRS.

Variantes da Repolarização Ventricular Normal

Padrão de Repolarização Precoce (RP)

Historicamente, o achado eletrocardiográfico repolarização precoce sempre foi considerado normal. Algumas publicações correlacionando a presença de um espessamento ou entalhe da porção final do QRS (também denominado de repolarização precoce) com maior mortalidade causaram um alvoroço científico sobre a benignidade desta condição.

A RP caracteriza-se pela presença obrigatória de um entalhe ou espessamento no final do complexo QRS, podendo ou não haver elevação do ponto J.

A presença de onda J (espessamento ou entalhe da porção final do QRS) com aspecto retificado do ST em derivações inferiores (isoladamente ou em associação às derivações laterais) pode ser marcador de risco elétrico para o desenvolvimento de taquiarritmias ventriculares.

Nas últimas décadas, grandes avanços ocorreram relacionados à repolarização ventricular. Dentre eles temos a dispersão da repolarização ventricular como marcador da recuperação não uniforme da excitabilidade miocárdica e o reconhecimento da macro ou da microalternância cíclica da onda T. Deve-se considerar como alterações da repolarização ventricular as modificações significativas na polaridade, na duração, na morfologia dos fenômenos elétricos acima descritos.

Referência: 

Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre a Análise e Emissão de Laudos Eletrocardiográficos — 2022. Brazilian Society of Cardiology Guidelines on the Analysis and Issuance of Electrocardiographic Reports — 2022 (Baixar Diretriz da SBC 2022)

Apresentação e Introdução da Diretriz SBC 2022

  1. Normatização para Análise e Emissão do Laudo Eletrocardiográfico
  2. Avaliação da Qualidade Técnica do Traçado
  3. A Análise do Ritmo Cardíaco
  4. Condução Atrioventricular
  5. Análise da Ativação Ventricular
  6. Sobrecarga das Câmaras Cardíacas
  7. Análise dos Bloqueios (Retardo, Atraso de Condução) Intraventriculares
  8. Análise do ECG nas Coronariopatias
  9. Análise da Repolarização Ventricular
  10. O ECG nas Canalopatias e Demais Alterações Genéticas
  11. Caracterização das Alterações Eletrocardiográficas em Situações Clínicas Específicas
  12. O ECG em Atletas
  13. O ECG em Crianças
  14. O ECG durante Estimulação Cardíaca Artificial
  15. Tele-eletrocardiografia
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