Última atualização: 15/03/2023
A Análise da Repolarização Ventricular é feita através do exame de eletrocardiograma (ECG) onde, é possível avaliar a atividade elétrica do coração, especificamente a repolarização ventricular.
A repolarização ventricular é o processo em que as células do músculo cardíaco relaxam após a contração, o que permite que o coração se prepare para a próxima batida. Análise da Repolarização Ventricular consegue detectar alterações na repolarização ventricular que podem ser indicativas de problemas cardíacos, como arritmias ou outras disfunções elétricas.
Durante o exame de ECG, são colocados eletrodos na pele do paciente que captam a atividade elétrica do coração. Os resultados da Repolarização Ventricular são avaliados inicialmente por um enfermeiro e depois por um médico, que pode ser ou não especialista em cardiologia, que pode utilizar essa informação para identificar condições cardíacas específicas e recomendar o tratamento adequado.
Enfermagem em cardiologia
Quando o assunto é cardiologia, os profissionais da enfermagem (enfermeiros e técnicos de enfermagem), são extremamente importantes, porque eles são os primeiros que identifica que algo não vai bem com determinado paciente.
O Enfermeiro também pode realizar Enfermagem em Cardiologia, uma Especialização regulamentada pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), através da Resolução Cofen n.º 581/2018.
A seguir, descreveremos de forma mais detalhada sobre “Análise da Repolarização Ventricular”, segundo a última Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), publicada em 2022.
Repolarização Ventricular
A análise da repolarização ventricular através do ECG é extremamente complexa, pois esta representa a
interação de vários sistemas capazes de se expressarem nos segmentos e ondas elétricas. O fenômeno da repolarização ganhou maior notoriedade ao trazer contribuições para a estratificação de risco de eventos arrítmicos graves e morte súbita.
Repolarização Ventricular Normal
Período entre o final do QRS e o final da onda T ou da onda U, quando presente. Dentro deste período, os seguintes elementos devem ser analisados:
Ponto J
É o ponto final da inscrição do QRS em sua interseção com o segmento ST. É útil para o diagnóstico dos desníveis do segmento ST.
Segmento ST
Porção do ECG que está entre o complexo QRS e a onda T, nivelado em relação à linha de base, determinada pelo segmento PR. Geralmente, nos indivíduos normais, o ST é ligeiramente ascendente em direção à onda T (quando esta é positiva) e, ligeiramente descendente, quando a T é negativa.
Onda T
A Onda T normal é assimétrica de início mais lento e final mais rápido, positiva em quase todas as derivações, habitualmente com polaridade semelhante à do QRS e de amplitude equivalente a cerca de 10% a 30% do QRS. Sempre negativa em aVR. Pode apresentar-se isoladamente negativa em V1 e/ou DIII.
Onda U
Última e menor deflexão do ECG que, quando presente, inscreve-se logo após a onda T e antes da P do ciclo seguinte, de igual polaridade à T precedente e de amplitude entre 5% e 25% da mesma, na maioria das vezes.
Geralmente visível apenas em frequências cardíacas baixas, tem sua gênese atribuída a:
a) repolarização tardia das fibras de Purkinje;
b) repolarização demorada dos músculos papilares;
c) Potenciais residuais tardios do septo;
d) acoplamento eletromecânico;
e) atividade das células M;
f) pós-potenciais de atividade gatilho (“triggered activity”).
Intervalo QT (QT) e Intervalo QT Corrigido (QTc)
a) QT – É a medida do início do QRS ao término da onda T, portanto representa a duração total da
atividade elétrica ventricular;
b) QTc – Como o QT é variável de acordo com a frequência cardíaca, habitualmente é corrigido (QTc)
pela fórmula de Bazzet, onde:
QTc = QT*/√RR
*QT medido em milissegundos e distância RR em segundos.
A fórmula de Bazzet,118 amplamente utilizada para o cálculo do QTc, apresenta, no entanto, limitações para frequências cardíacas menores que 60 bpm ou superiores a 90 bpm, devendo-se nesses casos utilizar fórmulas lineares como as de Framingham119 e Hodges.
Os valores do QT e QTc não precisam ser registrados no laudo, mas sempre devem ter sua normalidade verificada. Os valores para o QTc variam com o sexo e são aceitos como normais até o máximo de 450 ms para homens e 470 ms para mulheres. Para crianças, o limite superior do normal é de 460 ms,121 sendo em contrapartida considerado como QT curto os valores menores que 340 ms.122
A medida do intervalo QT nos bloqueios de ramo é controversa, destacando-se recentemente a correção simplificada proposta por Bogossian: QTmBR = QTm – 0,5QRS.
Variantes da Repolarização Ventricular Normal
Padrão de Repolarização Precoce (RP)
Historicamente, o achado eletrocardiográfico repolarização precoce sempre foi considerado normal. Algumas publicações correlacionando a presença de um espessamento ou entalhe da porção final do QRS (também denominado de repolarização precoce) com maior mortalidade causaram um alvoroço científico sobre a benignidade desta condição.
A RP caracteriza-se pela presença obrigatória de um entalhe ou espessamento no final do complexo QRS, podendo ou não haver elevação do ponto J.
A presença de onda J (espessamento ou entalhe da porção final do QRS) com aspecto retificado do ST em derivações inferiores (isoladamente ou em associação às derivações laterais) pode ser marcador de risco elétrico para o desenvolvimento de taquiarritmias ventriculares.
Nas últimas décadas, grandes avanços ocorreram relacionados à repolarização ventricular. Dentre eles temos a dispersão da repolarização ventricular como marcador da recuperação não uniforme da excitabilidade miocárdica e o reconhecimento da macro ou da microalternância cíclica da onda T. Deve-se considerar como alterações da repolarização ventricular as modificações significativas na polaridade, na duração, na morfologia dos fenômenos elétricos acima descritos.
Referência:
Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre a Análise e Emissão de Laudos Eletrocardiográficos — 2022. Brazilian Society of Cardiology Guidelines on the Analysis and Issuance of Electrocardiographic Reports — 2022 (Baixar Diretriz da SBC 2022)
Apresentação e Introdução da Diretriz SBC 2022
- Normatização para Análise e Emissão do Laudo Eletrocardiográfico
- Avaliação da Qualidade Técnica do Traçado
- A Análise do Ritmo Cardíaco
- Condução Atrioventricular
- Análise da Ativação Ventricular
- Sobrecarga das Câmaras Cardíacas
- Análise dos Bloqueios (Retardo, Atraso de Condução) Intraventriculares
- Análise do ECG nas Coronariopatias
- Análise da Repolarização Ventricular
- O ECG nas Canalopatias e Demais Alterações Genéticas
- Caracterização das Alterações Eletrocardiográficas em Situações Clínicas Específicas
- O ECG em Atletas
- O ECG em Crianças
- O ECG durante Estimulação Cardíaca Artificial
- Tele-eletrocardiografia