Análise da Ativação Ventricular

Análise da Ativação Ventricular

Atualizado em 20/04/2023 às 08:22

A análise da ativação ventricular refere-se à avaliação da sequência de contração do tecido cardíaco nas câmaras ventriculares do coração. Essa análise pode ser feita através de exames como eletrocardiograma (ECG), ecocardiograma, ressonância magnética cardíaca, entre outros.

No ECG, por exemplo, a ativação ventricular é representada pelas ondas QRS. A onda Q corresponde à contração do septo interventricular, seguida pela onda R que representa a contração do ventrículo esquerdo e, por fim, a onda S que representa a contração do ventrículo direito. A duração e a morfologia dessas ondas podem ser utilizadas para avaliar a presença de distúrbios na condução elétrica do coração.

No ecocardiograma, a análise da ativação ventricular pode ser feita através da observação do movimento das paredes do coração durante a sístole (fase de contração). Uma sincronia adequada na contração das paredes ventriculares é importante para a eficiência do bombeamento de sangue para o corpo.

Já na ressonância magnética cardíaca, a análise da ativação ventricular pode ser feita através da avaliação da distribuição de sinais de intensidade na imagem, que reflete o movimento da água dentro do tecido cardíaco. Anormalidades na distribuição desses sinais podem indicar distúrbios na contração ventricular.

Em resumo, a análise da ativação ventricular é importante para a avaliação da função cardíaca e pode ser realizada através de diferentes exames médicos, dependendo da necessidade e do quadro clínico do paciente.

O que faz o enfermeiro cardiologista?

O enfermeiro cardiologista é um profissional de enfermagem especializado na área da cardiologia, que atua em conjunto com outros profissionais de saúde, como médicos cardiologistas, para o cuidado e tratamento de pacientes com problemas cardíacos.

As principais atividades desempenhadas pelo enfermeiro cardiologista incluem:

  1. Realizar avaliação clínica do paciente, incluindo histórico de saúde, exame físico e avaliação dos sinais vitais.
  2. Realizar exames específicos, como eletrocardiograma (ECG), teste ergométrico, monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA), entre outros.
  3. Monitorar a evolução do quadro clínico do paciente e avaliar a resposta ao tratamento medicamentoso e outras terapias, como a reabilitação cardíaca.
  4. Orientar o paciente e seus familiares sobre a doença, cuidados com a saúde, prevenção de doenças cardiovasculares, dieta adequada e atividades físicas.
  5. Realizar intervenções de enfermagem em pacientes com problemas cardíacos, como administração de medicamentos, curativos, monitorização de sinais vitais, entre outros.

Além disso, o enfermeiro cardiologista pode atuar em unidades de terapia intensiva (UTI) cardiológicas, assistindo pacientes em estado crítico, e em centros de diagnóstico, realizando exames específicos e interpretando resultados.

Especialização Enfermagem em Cardiologia“, é regulamentada pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), através da Resolução Cofen Nº 581/2018.

A seguir, vamos descrever de forma mais detalhada sobre a Análise da Ativação Ventricular, segundo a última Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), publicada em 2022.

Ativação Ventricular Normal

Definição do QRS Normal

O complexo QRS é dito normal quando a duração for inferior a 120 ms em todas as derivações e amplitude entre
5 e 20 mm nas derivações do plano frontal e entre 10 e 30 mm nas derivações precordiais, com orientação normal do eixo elétrico.

Eixo Elétrico Normal no Plano Frontal

Os limites normais do eixo elétrico do QRS no plano frontal situam-se habitualmente entre -30° e +90°.

Ativação Ventricular Normal no Plano Horizontal

Tem como característica a transição da morfologia rS, característica de V1, para o padrão qR típico do V6, onde
observa-se um progressivo aumento da amplitude da onda r e, concomitantemente, uma gradual redução da onda de V2 até V6. Os padrões intermediários de RS (zona de transição) habitualmente ocorrem em V3 e V4.

Análise das Alterações de Ritmo Ventricular

Definição de Arritmia Cardíaca

Arritmia cardíaca pode ser definida como uma alteração da frequência, formação e/ou condução do impulso elétrico através do miocárdio.

Arritmia Ventricular

Arritmia ventricular é uma arritmia de origem abaixo da bifurcação do feixe de His, habitualmente expressa por QRS alargado.

Análise das Arritmias Ventriculares

Extrassístole Ventricular (EV)

Apresenta-se como batimento originado precocemente no ventrículo, geralmente com pausa pós extrassistólica, quando recicla o intervalo RR. Na ausência de pausa, é chamada de extrassístole ventricular interpolada. As EV geralmente apresentam duração do QRS superior a 120ms.

Excepcionalmente (EVs com origem no septo ventricular ou próximas do sistema de condução) podem apresentar-se com duração inferior a 120ms. Em relação à forma, podem ser classificadas em monormórficas (quando apresentam a mesma morfologia) ou polimórficas (apresentam mais de uma morfologia) e de acordo com sua inter-relação podem ser denominadas de isoladas, pareadas, em salvas, bigeminadas, trigeminadas, quadrigeminadas ou ocultas.

Batimento(s) de Escape Ventricular(es)

Batimento(s) de origem ventricular, tardio(s) por ser(em) de suplência. Surge(m) em consequência da inibição temporária de ritmos anatomicamente mais altos.

Ritmo de Escape Ventricular – Ritmo Idioventricular

Trata-se de ritmo com origem nos ventrículos, com FC inferior a 40 bpm, ocorrendo em substituição a ritmos anatomicamente mais altos que foram inibidos ou bloqueados.

Ritmo Idioventricular Acelerado (RIVA)

Este ritmo origina-se no ventrículo (QRS alargado), tendo FC superior a 40 bpm (entre 50 e 130 bpm, mais usualmente entre 70 e 85 bpm), em consequência de automatismo aumentado.

Não é ritmo de suplência, competindo com o ritmo basal do coração. Costuma ser autolimitado e está relacionado à doença isquêmica miocárdica (reperfusão/isquemia).

Taquicardia Ventricular (TV)

A taquicardia ventricular (TV) é um ritmo ventricular que se apresenta com três ou mais batimentos sucessivos com frequência cardíaca acima de 100 bpm.

Taquicardia Ventricular Monomórfica

Caracteriza-se por uma TV com morfologia uniforme na mesma derivação.

Taquicardia Ventricular Polimórfica (TVP)

Ritmo de origem ventricular, rápido, com QRS de três ou mais morfologias. Apresenta 2 padrões característicos: Torsade des Pointes (TdP) e a chamada taquicardia ventricular polimórfica verdadeira.

Taquicardia Ventricular Tipo Torsade des Pointes (TdP)

Trata-se de taquicardia com QRS largo, polimórfica, geralmente autolimitada, com QRS “girando” em torno da
linha de base (torção das pontas). Normalmente, é precedida por ciclos longo-curto (extrassístole – batimento sinusal – extrassístole) e observa-se, durante o ritmo sinusal, intervalo QT longo, o qual pode ser congênito ou secundário a fármacos, distúrbios eletrolíticos ou determinadas doenças cardíacas.

Taquicardia Ventricular Bidirecional

Trata-se de taquicardia de origem ventricular que, ao conduzir-se para o ventrículo, apresenta-se com o ramo
direito bloqueado constantemente (raramente BRE) e as divisões anterossuperior e posteroinferior do ramo esquerdo bloqueadas alternadamente, batimento a batimento.

No plano frontal do ECG alternam-se um batimento com QRS positivo, seguido de outro com QRS negativo,
sucessivamente (gerando o aspecto bidirecional).

Esta arritmia está relacionada a quadros de intoxicação digitálica, doença miocárdica grave por cardiomiopatia avançada e casos sem cardiopatia estrutural, como a taquicardia catecolaminérgica familiar, sendo prenúncio de taquicardia ventricular polimórfica nestes indivíduos.

Quanto à Duração

Classificação de acordo com sua duração em segundos: taquicardia sustentada (TVS) ou não sustentada (TVNS), se o período da arritmia for ou não superior a 30 s e/ou sem sintomas de instabilidade hemodinâmica.

Batimento de Fusão

Corresponde a batimento originado nos ventrículos que se funde com o batimento supraventricular. Ao ECG,
apresenta onda P seguida de QRS alargado, que é a soma elétrica do batimento supraventricular com a extrassístole ventricular (morfologia híbrida entre o batimento supraventricular e o de origem ventricular). Os batimentos de fusão são encontrados nas seguintes situações: pré-excitação ventricular, taquicardia ventricular, parassistolia e extrassistolia ventricular.

Batimento com Captura Supraventricular

Durante Ritmo Idioventricular

Trata-se de batimento originado no átrio que consegue ultrapassar o bloqueio de condução (anatômico ou funcional) existente na junção AV e despolarizar o ventrículo totalmente ou parcialmente, gerando no último caso um batimento de fusão.

Parassístole Ventricular (PV)

Corresponde ao batimento originado no ventrículo em foco que compete com o ritmo sinusal do coração (marca-passo paralelo que apresenta bloqueio de entrada permanente e de saída ocasional), sendo visível eletrocardiograficamente por apresentar frequência própria, batimentos de fusão e períodos inter-ectópicos com um múltiplo comum e períodos de acoplamento variável.

Fibrilação Ventricular (FV)

Caracteriza-se por ondas bizarras, caóticas, de amplitude e frequência variáveis. Clinicamente, corresponde a uma das formas de apresentação da parada cardiorrespiratória. Este ritmo pode ser precedido de taquicardia ventricular ou Torsade des Pointes, que degeneraram em fibrilação ventricular.

Critérios de Diferenciação entre as Taquicardias de Complexo QRS Alargado

A maioria das taquicardias com complexo QRS largo (80%) é de origem ventricular. A presença de cardiopatia estrutural reforça esta possibilidade. Os achados de dissociação AV (frequência ventricular maior que a atrial), a presença de batimentos de fusão e/ou captura ventricular (com QRS diferente) sugerem fortemente o diagnóstico de TV.

Existem algoritmos, como os de Brugada e de Vereckei (mais utilizados), que auxiliam essa diferenciação na ausência desses sinais (Figura 1).

ECG’s com os achados dos critérios de Brugada e Steuer, para o diagnóstico de TV, são exemplificados nas Figuras 2,3 e 4 , respectivamente.

– Critérios eletrocardiográficos para diferenciação entre taquicardia supraventricular com aberrância e taquicardia ventricular
Figura 1
Figura 2 - Exemplos dos quatro critérios de Brugada para o diagnóstico de taquicardia ventricular
Figura 2
Figura 3 - Exemplos dos quatro critérios de Brugada para o diagnóstico de taquicardia ventricular
Figura 3
Figura 4 - Exemplos dos quatro critérios de Brugada para o diagnóstico de taquicardia ventricular
Figura 4
Figura 5 – Critérios de Steuer para o diagnóstico de taquicardia ventricular.
Figura 5

Referência: 

Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre a Análise e Emissão de Laudos Eletrocardiográficos — 2022. Brazilian Society of Cardiology Guidelines on the Analysis and Issuance of Electrocardiographic Reports — 2022 (Baixar Diretriz da SBC 2022)

  1. Normatização para Análise e Emissão do Laudo Eletrocardiográfico
  2. Avaliação da Qualidade Técnica do Traçado
  3. A Análise do Ritmo Cardíaco
  4. Condução Atrioventricular
  5. Análise da Ativação Ventricular
  6. Sobrecarga das Câmaras Cardíacas
  7. Análise dos Bloqueios (Retardo, Atraso de Condução) Intraventriculares
  8. Análise do ECG nas Coronariopatias
  9. Análise da Repolarização Ventricular
  10. O ECG nas Canalopatias e Demais Alterações Genéticas
  11. Caracterização das Alterações Eletrocardiográficas em Situações Clínicas Específicas
  12. O ECG em Atletas
  13. O ECG em Crianças
  14. O ECG durante Estimulação Cardíaca Artificial
  15. Tele-eletrocardiografia
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